Nas padarias do Seu Armando, quem toma no * é o cliente

“Gostaria de manifestar minha indignação pelo péssimo atendimento da padaria Armando Lanche’s, em Botafogo, onde fui tomar o desjejum na última terça-feira (9/3).

Pedi um misto quente e uma vitamina de mamão, que foram anotados pelo atendente sem nenhuma observação. Vinte minutos depois, o pedido ainda não havia chegado. Cobrei o funcionário. Ele pediu desculpas, disse que estava começando naquele dia e que iria verificar o que ocorria.

Passaram-se mais 15 minutos até que o rapaz retornasse com uma resposta: devido à tempestade da noite anterior, o entregador de frutas não havia passado naquela manhã. Troquei a vitamina por um café com leite.

Esperei outros 15 minutos até que o garçom me trouxesse o café e um pão com margarina. Comentei que havia pedido um misto e obtive a seguinte resposta: a moça que fatia os frios ainda não havia chegado.

Na primeira mordida, percebi que o pão era velho. Já boladão com tantas mancadas, voltei a reclamar. Disseram-me que o patrão havia chamado um Uber para buscar pão em Copacabana, mas o motorista estava preso no trânsito.

Quando mencionei o fato de ali ser uma padaria, o garçom me contou que o padeiro pedira demissão naquela manhã.

Ainda me cobraram o valor total da comanda. Nunca mais ponho os pés na padaria do Seu Armando!”

Clemente Barreto, Rio de Janeiro, RJ

RESPOSTA

A reportagem tentou entrar em contato com a Armando Lanche’s. Ao telefone, um funcionário que se identificou apenas por Armandinho informou que o proprietário Armando Vieira Veiga não poderia atender no momento. Ele estaria ocupado fritando hambúrgueres, uma vez que o chapeiro havia faltado ao serviço, sob o pretexto de ter perdido mulher e filhos num deslizamento causado pela chuva. Quanto à queixa do cliente, Armandinho sugeriu que o reclamante pegasse uma balsa até o Leblon se quisesse atendimento de primeira classe.

 

***

 

A carta acima foi inventada por mim, mas poderia ser real. Assim como poderia ser verdadeiro o áudio do Seu Armando, que viralizou nas redes sociais.

Um resuminho para quem mora em Vênus: o tal áudio emula uma mensagem de WhatsApp de um funcionário de um certo Seu Armando, português e dono de padaria em Botafogo. Morador de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, o empregado protesta porque o patrão o tachou de preguiçoso –ele teria faltado ao trabalho e posto a culpa na “chuvinha” que caiu no Rio, dias atrás. O festival de impropérios é hilariante, porém falso. Foi criado por um canal de humor do YouTube.

“Seu Armando, vai tomar no *!” é o bordão da semana na internet brasileira.

Quem conhece um pouquinho o setor da alimentação sabe como é precária a situação de trabalhadores da cozinha e do salão. As equipes são mal pagas e subqualificadas. Trabalham sob uma pressão infernal e encaram o serviço como um bico. É a coisa mais normal do mundo um funcionário sumir para sempre sem avisar o patrão.

Chefs e empresários do ramo, que também sambam para pagar as contas, são culpados por romantizar esse pesadelo laboral. Gabam-se de trabalhar 169 horas por semana, de suas cicatrizes causadas por acidentes, de beber demais para aliviar o estresse.

No mundo real, acontecem coisas ainda mais bizarras do que a piada do Seu Armando. Em novembro do ano passado, um sushiman surtou em pleno expediente num restaurante do Itaim. Pense: o sujeito tinha uma faca afiada para cortar peixe… ele a usou para ameaçar colegas e clientes. Acabou morto a tiros pela PM.

Em casos menos extremos, o cliente também toma no *. Para evitar que o freguês fuja antes de pedir comida, os restaurantes só avisam que a equipe está incompleta depois do estrago feito. Só falam que o trainee do caixa substituiu o chef depois que o pedido chegou trocado, queimado, frio e com duas horas de atraso. Depois que a reputação da casa foi completamente destruída para os clientes da noite e as respectivas redes sociais (reais e virtuais).

É um jeito burro de trabalhar.

 

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