Kafta, a metamorfose

Neste circo chamado Brasil, você acorda um dia e se depara com um vídeo do ministro da Educação –repito: da He-du-cas-são– chamando o escritor Franz Kafka de “kafta”.

A coisa fica mais surreal ainda quando pessoas sérias começam a falar seriamente sobre a geopolítica da kafta. O prato menos fotogênico do Universo!

Tuitou assim o jornalista Guga Chacra, correspondente internacional da GloboNews:

“Kafta é uma comida sírio-libanesa, assim como kibe, esfiha, hummus, taboule, fatoush. Podem até fazer em outros lugares, mas é errado negar a origem. Inclusive, não se fala ‘comida árabe’ pq, na Arábia Saudita, vc só comerá estes pratos em restaurantes libaneses.”

Querem falar de kafta? Falemos de kafta, pois. O assunto de hoje é kafta.

Guga, paulistano de ascendência libanesa, não está completamente errado. Mas ele puxou a brasa para o próprio shish-kebab.

Embora a kafta seja inegavelmente um prato típico da Síria e do Líbano, não dá para afirmar que ela tenha origem nesses países. A palavra “kafta”, de acordo com a enciclopédia culinária “The Oxford Companion to Food”, é possivelmente derivada do persa koofteh –termo que significa “carne amassada”.

Isso sugere que a kafta tenha aparecido antes na região onde hoje fica o Irã. Fato é que o espeto de carne moída integra a cultura alimentar de vários países da Ásia e da Europa Oriental. Em cada um deles, o nome do prato se metamorfoseia sutilmente.

Em grego, chamam-no de keftedes. Em turco, köfte. No Marrocos, kufta. Na Índia, kofta ou kofte. Em sérvio e em croata, cufte.

Na real, não faz sentido presumir que algum povo tenha inventado sozinho o bolinho de carne moída. Triturar a carne é um recurso que a humanidade aprendeu muito cedo para conseguir mastigar pedaços duros dos animais que caçava.

O que é a kafta, se não um hambúrguer com outro formato? Polpetta, almôndega, meatball, chame como quiser.

Quer mais? Envolva a kafta em uma membrana de tripa animal e você terá –tcharan!– uma linguiça.

Essa é a verdadeira metamorfose da kafta.

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