Hambúrguer é o refúgio dos medrosos
O empreendimento gastronômico mais bem-sucedido de Lisboa é o Time Out Market, uma praça de alimentação que ocupa metade do espaço do antigo Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré.
São mais de 30 estabelecimentos que servem praticamente tudo o que há na culinária portuguesa. O lugar fica lotado o dia todo com americanos, franceses, espanhóis, japoneses, alemães, dinamarqueses, canadenses, chilenos. E brasileiros, claro. Portugueses, eu só vi atrás dos balcões.
A turistada pira e se refestela com presuntos de porco preto, pimentos de Padrão, francesinhas, camarões-tigre, amêijoas à Bulhões Pato, bacalhau, lulas, chocos e calamares, pastéis de nata, queijadinhas de Sintra, arroz de gambas, pregos, alheiras, sardinhas na brasa, bifanas, sapateiras, carabineiros, açordas e mais.
A maior fila do mercado, no entanto, vai para um estande denominado Ground Burger. Filial de uma hamburgueria muito prestigiada em terras alfacinhas.
Estrangeiros numa espécie de Disney da comida portuguesa escolhem hambúrguer. Essas pessoas deveriam ter o passaporte apreendido.
O turista medroso, apavorado com o vislumbre de uma aventura gastronômica exótica, é uma figura proverbial.
Ele viaja ao México, ao Brasil, à França, à Tailândia. A Itália é uma exceção, pois pizza e espaguete ao sugo são tão bundões para o turista quanto uma escapada rumo ao McDonald’s em Tóquio.
Não me entenda mal: adoro hambúrguer, adoro pizza e adoro macarrão. A questão é a falta de curiosidade. De interesse pelo diferente.
Por que diabos essas pessoas viajam, se precisam se aninhar numa refeição familiar assim que bate a primeira fome?
O indivíduo não toma a iniciativa de aprender as boas maneiras no idioma local. Não consegue decorar “bom dia”, “por favor” e “obrigado” em árabe, grego ou russo.
Como esperar que uma pessoa assim tenha abertura à culinária de um país que sua mente obtusa julga bizarro ou degenerado? No mínimo, não é tão bom quanto arroz e feijão. No extremo, vai que isso é carne de cachorro?
Causou revolta na comunidade coreana o vídeo de um casal de influencers brasileiros. A dupla foi à Coreia e, sem tentar entender a situação, gravou cenas de nojinho explícito em pontos de venda de alimentos.
Aceitar o diferente não corrompe a identidade de ninguém. Conhecimento nunca é demais, mas tem gente com medo de que novas informações possam abalar suas certezas. Certamente vão, o que é excelente.
Essa poltronice não é exclusiva de brasileiros. No caso do mercado de Lisboa, quase toda a fila do hambúrguer tinha cabelos dourados e olhos azuis.
Só não tenho notícia de presidente estrangeiro que haja corrido para a churrascaria ao chegar a Osaka, a cidade mais glutona do Japão.
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