Já entreguei pizza nos EUA: quero um consulado

Não sou nenhum 03, devo admitir. Nunca fritei hambúrguer nos Estados Unidos, no frio do Maine. Aliás, nunca fritei um hambúrguer. Todos os que eu preparei na vida eram grelhados ou chapeados.

Não venho pedir a embaixada norte-americana –até porque o Dudão já está esquentando a cadeira. Mas tampouco sou um desqualificado total. Vou apresentar minhas credenciais internacionais.

Porque eu sou apto, segundo os critérios correntes, a chefiar um consulado em Nova York ou Los Angeles.

Eu já entreguei pizza na gringa. E foi na Califórnia –estado que, vamos combinar, lacra muito mais do que as geleiras da Nova Inglaterra.

Fui um péssimo entregador de pizza. Talvez o pior que já tenha passado por San Leandro, a São Caetano da baía de São Francisco.

Mas pelo menos a minha pizzaria vendia pizzas. Não era como a lanchonete em que o Dudu fritava hambúrguer, que só trabalha com frango e camarão. Isso conta um ponto ao meu favor, presumo.

Eu era o típico garoto mimado de classe média. Vinte e um aninhos de pura arrogância. Não fazia a menor ideia de como me portar num emprego quase braçal.

Quando o gerente me apresentou o esfregão para limpar o chão da loja, eu o olhei com cara de pasmo. “Vocês não têm isso no seu país?”, perguntou o sujeito. E eu respondi, do alto da minha empáfia: “Ter, até tem, mas eu nunca encostei em um.” Ele revirou os olhos e foi fazer o que tinha para fazer.

Óbvio que não poderia dar certo. Desatento e desleixado, eu sempre esquecia de levar o refrigerante para o cliente. Foram muitas as vezes em que eu comprei Coca-Cola com meu próprio dinheiro –o objetivo era não levar um sabão merecido quando voltasse à pizzaria.

Meu American dream terminou quando fundiu o motor do carro que eu comprei para entregar pizza. Era um Ford Capri 1979 (estávamos em 1992) e, claro, a culpa do incidente foi toda minha. Eu não sabia o que era trocar o óleo, coisa que meu pai fazia para mim no Brasil.

Pai por pai, o Eduzão também tem um que zela para caramba por ele. Mas o garoto tem proatividade e é um cidadão de bem. Duvido que tenha sido o playboyzinho que eu fui na Califórnia. Afinal, é preciso ter caráter reto para encarar o frio glacial do Maine.

Voltemos ao meu pleito. A experiência internacional me ensinou a ter alguma vergonha na cara. Aprendi até a usar o tal esfregão!

Falo inglês, me viro perfeitamente no portunhol e tenho pleno domínio do italiano. Só da linguagem gestual, mas guardo um ás na manga: falo também o dialeto mooquense, o que zera qualquer ruído de comunicação na Itália.

Assim, se sobrar um carguinho em Roma, Milão, Buenos Aires ou Tegucigalpa, me avisem. E sempre teremos Lisboa, pois, afinal, falo português fluente.

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