Comer carne humana ou morrer: o que você escolhe?
Uma estranha notícia sacudiu as bolhas ultraconservadoras e negacionistas da mudança climática no fim-de-semana: um cientista sueco teria proposto o consumo de carne humana para mitigar o aquecimento global.
A “bomba” foi divulgada pelo site reaça Breitbart e prontamente retuitada pelo mestre dos magos das fake news, Donald J. Trump em pessoa.
Não foi bem assim.
Magnus Söderlund, o palestrante em questão, não é um cientista relacionado às mudanças do clima. Ele é um catedrático de marketing na Escola de Economia de Estocolmo.
Söderlund tampouco propôs o canibalismo como parte de um pacote de soluções para frear a deterioração ambiental. Essa versão foi propalada pelos seguidores de Trump para ridicularizar os cientistas ambientais.
Feitas as duas ressalvas, o sueco disse o que disse. Foi uma provocação, um exercício retórico para a plateia de um fórum de alimentação.
A hipótese levantada por Söderlund é a seguinte: num cenário pré-apocalíptico, a humanidade seria forçada a buscar fontes alternativas de nutrição. Aí entram os vermes, os insetos e, em última análise, a carne humana.
Então o professor disse que o tabu anticanibal é conservador e pode ser superado a depender das circunstâncias.
É tudo puramente retórico. Ele não entra no mérito da obtenção dessa fonte de proteína. Como conseguir carne humana sem matar –creio que pouquíssimos levantam a voz contra este tabu– nem se submeter aos riscos do consumo de cadáveres por morte natural?(Coincidentemente, assunto abordado pela minha coluna de 7/7/2019, sobre o churrasco feito com uma baleia encalhada na praia em Salvador.)
Richard Dawkins –este, sim, um cientista– chegou a teorizar sobre o cultivo de células humanas em laboratório para a produção de alimento. Provocação desnecessária, já que o mesmo pode ser feito com todos os outros seres do reino animal.
O fato é que Söderlund não falou nenhum absurdo, muito pelo contrário. A repulsa ao canibalismo frequentemente é superada em situações extremas. Um episódio muito conhecido foi o acidente aéreo com a seleção uruguaia de rúgbi, no alto dos Andes, em 1972. Num ambiente composto apenas por gelo e rochas, os sobreviventes se viram obrigados a comer os colegas mortos. Muitos dos canibais de ocasião estão vivos até hoje, graças a essa sábia decisão.
E você, como se comportaria? O que precisaria ocorrer para você se render ao canibalismo? Ou você prefere a morte a comer carne humana?
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