Meus 7 bares favoritos no Rio de Janeiro
O Bar Luiz, enfim, não fechou. Depois de uma semana de comoção e solidariedade detonadas pelo anúncio do encerramento da operação, o histórico bar do centro do Rio seguirá aberto.
Acho excelente. Não sei exatamente o que motivou a proprietária a voltar atrás, mas é sempre bom quando a história se preserva viva. Desejo toda a sorte do mundo ao Bar Luiz.
O Luiz só vai sobreviver se os cariocas e os visitantes o frequentarem. Para além da degradada rua da Carioca, o Rio está tão vivo quanto sempre: beber por lá é prazer garantido. Aproveito a ocasião, portanto, para convidar o leitor a conhecer a cena dos botecos da cidade que escolhi para morar. Vou ficar nos meus sete favoritos desta semana: cometeria injustiças de qualquer modo, então não tenho por que escrever um Guia Michelin.
Há pouco mais de um ano, fiz um trabalho sensacional com o pessoal do Bar Pirajá –uma casa de São Paulo que homenageia os bares cariocas. Para celebrar o vigésimo aniversário do bar, produzimos um guia com 20 botequins do Rio, visitados em um único fim-de-semana.
Algumas das dicas a seguir eu conheci naquele rolê. Outras eu já conhecia. Outras, ainda, eu vim a conhecer depois de me mudar. Os sites dos botecos estão nos hyperlinks embutidos em seus nomes. Vá ao Rio –a cidade precisa do turista–, beba umas e divirta-se.
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Se você chegar ao Rio numa tarde bonita, nem passe no hotel. Vá direto do aeroporto para o Bar Urca, com mala e tudo. É a melhor recepção que o visitante pode ter do Rio de Janeiro. O pastel de feijão é ok, as empadas também, mas não espere demais da cozinha: o lance do Bar Urca é a vista para o mar. Pegue uma cerveja gelada, atravesse a rua e beba sentado na mureta, debruçado sobre a baía de Guanabara.
Os cariocas se dividem em dois tipos não-excludentes: o pessoal saúde, que acorda cedo para correr, toma açaí e coisa e tal; e os que vivem com a barriga encostada no balcão do boteco. No segundo grupo, ninguém é isentão. Todo mundo tem seu bar predileto –em geral, um que dê para ir a pé.
O meu é o Popeye, na quadra da minha casa, em Ipanema. Talvez pela localização, é um boteco com suas peculiaridades. Toca rock. Apesar do jeitão de pé-sujo, vende algumas opções de cerveja artesanal.
De resto, é o clássico botequeiro. Chope gelado, pastéis –prove o de costela desfiada–, o caldinho de feijão, a moela acebolada e um pernil assado muito bem temperado pela garçonete Vivian. O Popeye funciona há 50 anos na mesma esquina! A calçada lota aos fins-de-semana, às vezes também nos dias de semana.
O Toninho, herdeiro do Momo, é fera na cozinha. A fama do seu bolinho de arroz, lotado de queijo, extrapolou os domínios da Tijuca e do Rio de Janeiro –é homenageado até em terras paulistanas, no cardápio do Guarita. Ele também faz croquete de pernil, bolinho de mac and cheese, sanduíche de barriga de pirarucu, hambúrgueres, um dogão que ai-meu-deus e várias outras delícias. Só um ponto negativo: o Momo, que antes tinha uma oferta variada e interessante de cervejas, fechou exclusividade com a Ambev.
Botafogo é a Pinheiros carioca. Não tem praia –melhor: tem, só que é suja–, mas atrai o pessoal xóben com seus bares modernex. O Porco Amigo, nesse cenário, é bem low-profile. Fica numa esquina em que passam poucos carros e desistiu de tocar música alta depois das reclamações da vizinhança –bendita vizinhança! Como o nome leva a deduzir, a especialidade está nos petiscos à base de carne de porco. Não chega a ser nenhuma Casa do Porco (e nem tem a pretensão disso), mas manda muito bem nos croquetes de costelinha, na porcoxinha, na barriga com cebola caramelizada e no clássico torresminho.
O Braca é um clássico da volta da praia no Leblon. Sempre lotou, sempre mandou bem nos petiscos, mas agora subiu de patamar nas mãos do jovem Kadu Tomé, terceira geração de portugas botequeiros vascaínos. O chope é gelado e fresco. A cozinha está tinindo. Prove o sanduíche de peito de boi. O bolinho de aipim com camarão e requeijão, invenção da casa. A cozinha de pernil. Por último, mas não menos importante: o frango à passarinho, o favorito de Kadu, sequinho e cheio de alho crocante.
Fui entender a paixão do carioca pelos galetos quando fui ao Sat’s. O frangote é assado na brasa com precisão. O molho da casa, à base de laranja, limão, alho e pimenta-calabresa, é de chorar. O pão de alho é o melhor do Brasil, assim como o coraçãozinho de frango. Vá na matriz, em Copacabana, se quiser autenticidade; se quiser conforto e atendimento, vá à filial de Botafogo.
Faz tempo que quero conhecer o bar do David, encarapitado no morro Chapéu Mangueira, no Leme. Não fui porque, confesso, sou meio bundão para essas aventuras na favela. Mas o David facilitou a minha vida: montou uma filial no ashfalto, como dizem aqui no Rio. Fica em Copacabana, no imóvel entre o Sat’s e o Cervantes, que tem o sanduíche de pernil mais famoso da cidade… com abacaxi. Cerveja geladaça e um excepcional pastel de feijão-tropeiro. Preciso voltar para provar outros pratos.