Só roqueiro burro paga R$ 20 por esfihas do Habib’s no Rock in Rio
Tenho muitas razões para andar dentro da lei, mas só uma cabe no âmbito desta coluna: desde criança, sinto calafrios ao imaginar a comida horrorosa que me seria servida na cadeia.
Detentos, por mais que recebam refeições dignas, carecem de liberdade de escolha. Esse é o espírito de uma prisão, aliás. Você come o que tem para todo mundo ou não come. Talvez na Islândia eles atendam demandas específicas de prisioneiros celíacos e alérgicos. No Brasil, duvido muito. Quem não é o Sergio Cabral está lascado.
Situações análogas, embora menos extremas, acontecem em outros ambientes de confinamento. Navios de cruzeiro por exemplo. O passageiro não pode ir logo ali na venda para comprar um amendoim japonês.
Parques de diversão e grandes festivais de música têm uma lógica semelhante. O visitante até pode sair e entrar de volta, mas as distâncias são vastas. Simplesmente não vale a pena.
Cientes do confinamento de sua clientela, os concessionários dos serviços de alimentação elevam os preços. Existem fatores reais para o aumento de valor, como os custos da montagem da operação e do aluguel do espaço, mas também incide a ganância.
É extorsão, é exploração, é lícito, é natural. É o capitalismo, enfim. Quem não se conforma com isso, que consulte a programação cultural de Pyongyang.
Dentro desse contexto de facada anunciada, até que o line-up gastronômico do Rock in Rio 2019 está bem decente. São dezenas de fornecedores com centenas de sanduíches, quitutes, salgados, pizzas, sushis e até pratos de sustança.
Nada é especialmente barato, mas fica complicado justificar os preços praticados pelas lanchonetes Habib’s e Ragazzo (ambos de propriedade do grupo Alsaraiva).
No Rock in Rio, três esfihas do Habib’s custam R$ 20 –pouco menos de R$ 7 cada. Em comparação, cinco unidades são vendidas por R$ 7,90 no delivery da marca fora dos domínios do festival.
Por valor semelhante (R$ 22), o roqueiro gourmezão compra seis bolinhos de feijoada do Aconchego Carioca, um dos melhores botequins do Rio, que montou sua tendinha no RiR.
Mais: em parceria com o Sebrae, o festival montou um negócio bacana batizado de Espaço Favela. São estandes de botecos de comunidades como Maré, Cantagalo, Vidigal e Alemão. Grana para quem precisa dela. Oportunidade única e exclusiva para a playboyzada do Rock in Rio.
No mundo ideal, o Habib’s ficaria às moscas no Rock in Rio –pois oferece comida de baixíssima qualidade por um preço absurdo. Mas não vai ficar.
Porque o medo do novo empurra o gado para a mesma ração de todo dia. Gente medrosa e burra é o que não falta nos festivais de rock, na festa do peão, no mundo.
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