As tristes batatinhas que o rapper Drake trouxe na mala para o Rock in Rio

Quem não gostaria de ficar rico? Eu adoraria. Acho que ninguém, independente de declarações públicas de humildade e generosidade, dispensaria uma bela fortuna.

O que fazer com dinheiro que nunca acaba? Tá legal, temos que saldar as dívidas, comprar casa própria e quem sabe até ajudar a família. Mas pensemos adiante: como passar a desfrutar a vida como uma pessoa rica?

Viajando pelo mundo sem pensar na fatura do cartão, é claro. Imagino que grande parte das pessoas pense assim. O que mais, se não isso? Montar uma empresa para trabalhar? Construir um circuito de Fórmula 1 no quintal de casa?

Só que existe viajar e viajar. Para mim, viajar significa conhecer coisas diferentes. Gente diferente. Seus hábitos, sua cultura, sua comida. É triste ver o mundo do alto de um helicóptero ou da sacada de um hotel de luxo. Eu prefiro assistir TV.

O rapper canadense Drake certamente discorda de mim.

Viajou para o show no Rock in Rio num avião particular e evitou todo tipo de interação com os locais. E ainda proibiu a transmissão de sua apresentação pela TV. Conseguiu ser a celebridade mais antipática a pisar em solo brasileiro desde Axl Rose.

Segundo a imprensa carioca, Drake não quis encostar na comida brasileira. Trouxe na bagagem batatas e até um chef de cozinha. No hotel, mandou o tal chef fritar as batatas e sequer deu uns trocados para os garçons que lhe serviram os preciosos tubérculos. Foi embora sem dizer tchau.

Quando você nasce bilionário –um Donald Trump, digamos–, é até natural que estranhe o mundo cheio de contato físico dos plebeus. Mas o tal do Drake é um suburbano que montou na grana. Já comeu muito hambúrguer gorduroso nesta vida.

Não esperava que o Drake fosse tomar um chopinho num quiosque de Copa. Dá para imaginar o perrengue que é sair para a rua com uma comitiva de seguranças, assessores e puxa-sacos em geral, só para ficar irritado com os paparazzi. Mas um cara com o cacife do Drake poderia subir num helicóptero e comer sossegado em Visconde de Mauá ou Itaipava. Ou no casarão de algum rico deslumbrado carioca. Ele teria, assim, uma mínima experiência local. Mas fez cara feia para a comida do hotel de luxo.

Sua recusa em provar a comida carioca, mais que um acinte, é uma amostra de uma personalidade pequena, mesquinha. Um vislumbre de seu completo desinteresse pelo mundo e pelas pessoas que o habitam.

Drake e suas batatas são a caricatura do turista que lota os McDonald’s e os Burger Kings de Paris. Dos tipos queimados de sol que carregam toneladas de salgadinhos e chocolates para não encarar a culinária do país de destino. Dos infelizes que só comem hambúrguer, pizza e espaguete quando viajam.

Drake é um infeliz cheio de grana que viaja o planeta com seu mundinho particular a tiracolo, incluindo as batatas– murchas, de tanta tristeza. Na boa: eu prefiro sofrer com os meus boletos.

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