É proibido comer carne vermelha, mas se quiser pode comer

 

Causou certo alvoroço no começo da semana um estudo, divulgado pelo “New York Times”, que inocenta –em termos– a carne vermelha dos males que lhe são imputados.

Em resumo: os pesquisadores de uma universidade canadense examinaram pesquisas anteriores e consideraram frágil o elo entre o consumo de carne e a ocorrência de doenças como câncer e cardiopatias.

O sindicato dos amantes da picanha inundou as redes sociais com posts acusatórios, sambando na cara da sociedade como quem grita “chupa”.

Já a comunidade médica tentou refrear o ímpeto dos carnistas, recomendando cautela na interpretação do artigo e acusando seus autores de frivolidade irresponsável.

Na real, na boa, na moral : pouco importa.

Se o bacon não te matar, alguma outra coisa vai. O corpo humano é um objeto de estudo muito complexo, bem mais matreiro do que os corpos celestes –gases e pedras cujo comportamento cabe em fórmulas matemáticas mais ou menos universais.

As pesquisas envolvendo alimentação e saúde esbarram em interesses de lobbies. Seus resultados raramente são assertivos.

Por mais que o senso comum nos diga que o torresmo entope as artérias, é imprudente estabelecer uma relação de causa-efeito categórica.

O sujeito da artéria entupida, que come um balde de torresmo no almoço e outro no jantar, poderia ser portador de alguma predisposição genética. Outro indivíduo, que come tudo isso mais outra bacia de torresmo no café da manhã, pode ter a saúde de um atleta olímpico.

São múltiplos os fatores que afetam a saúde de uma pessoa. A dieta conta, mas não dá para colocar numa planilha de Excel onde entram as contribuições do frango xadrez e do suflê de chuchu.

Já vimos o filme várias vezes. A redenção do antigo inimigo público número 1. Ovos, café, chocolate, gordura animal e até álcool.

Atividade física, genética, tabagismo, condições psiquiátricas, estresse, sobrepeso, distúrbios do sono. Tudo isso afeta o funcionamento de algo dentro de você. O problema está em identificar o que atua onde.

A uruca que culmina na morte também envolve fatores aleatórios. Acidentes acontecem. Não me refiro ao acidente clássico, do Fusca espatifado no poste.

Você pode torcer o tornozelo, ficar de molho em casa, em depressão, tomando sete litros de refrigerante por dia, dar entrada no hospital com uma úlcera e morrer de sepse. Pode comer uma ostra contaminada e partir desta para melhor em questão de dias.

Assim, recomendo uma boa dose de bom-senso e de fé no próprio taco. Coma menos carne: as vacas soltam muito pum, e isso tende a acabar mal. Quando comer carne, coma carne boa e bem-preparada. Um bicho morreu para você matar seu desejo de hambúrguer, animal!

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