Governo serve pão com larva para a garotada no Dia das Crianças

Às vésperas do Dia das Crianças, minha caixa de e-mail recebeu o habitual bombardeio de sugestões de reportagem. Uma overdose de açúcar e gordura em forma de chocolate, milk-shake, pizza, hambúrguer, sorvete, macarrão, cachorro-quente.

Para seduzir a garotada, o pessoal aposta alto na falta de ousadia e na criatividade zero. Minto: uma rede de supermercados foi bem criativa. Vai trocar brinquedos usados por coxinhas. Isso mesmo. Sua Barbie careca vale uma coxinha.

No meio dessa conspiração para fabricar crianças obesas, tinha algo muito bacana. Vindo de onde menos se espera: o governo estadual de São Paulo.

O museu Planeta Inseto, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, oferece hoje um banquete de bichos cascudos para a piazada. Para tanto, contratou os serviços de um “bugs cook” –cozinheiro de insetos.

A iguaria anunciada pelo museu é o ora-pro-bugs, uma brusqueta com ora-pro-nóbis e larvas de besouro.

O objetivo da ação é quebrar o preconceito com o uso de criaturas invertebradas rastejantes na alimentação. Sei lá se vai funcionar. Gafanhotos e percevejos não me falam ao estômago, mas sou velho. Crianças, sem décadas de nojinho inculcado, tiram de letra essa parada.

Curioso é que, apesar do esforço para normalizar a entomofagia, o discurso oficial recorra a eufemismos para descrever o cardápio. A tal brusqueta, segundo o comunicado à imprensa, é coberta com “besouros na fase jovem”. Governo do PSDB tucanou a larva.

A inclusão de insetos na dieta humana é um tema muito sério, propalado pelas cabeças mais antenadas da comunidade científica global. Há o risco de, num futuro não tão distante, a produção de comida ser insuficiente. Então seremos forçados a nos virar com coleópteros e ortópteros. Um x-barata voadora com fritas, por favor.

Se comemos os invertebrados do mar, qual o problema em devorar invertebrados terrestres? Em que a aparência de uma lagosta é mais atraente do que uma aranha caranguejeira?

É tudo uma questão de hábito. Chineses se fartam com espetinhos de escorpião e de bicho-da-seda. Mexicanos mandam ver nos tacos de chapulines colorados –gafanhotinhos vermelhos, não o Chaves voador.

O Brasil tem sua própria tradição entomofágica. No vale do Paraíba paulista, as revoadas de içás –saúvas aladas– são festejadas nas áreas rurais. A bunda do bicho vira ingrediente de uma paçoca salgada, com farinha de mandioca.

Se você quiser comer inseto e ser trendy ao mesmo tempo, vá ao restaurante amazonense Banzeiro, no Itaim. Lá, o chef Felipe Schaedler prepara uma sobremesa com uma formiga que tem gosto de erva-cidreira.

Sinto por não estar em São Paulo hoje, para levar meu moleque de 7 anos ao Planeta Inseto. Mas tenho informações de fonte confiável: ele estará lá.

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PLANETA INSETO

Rua Dante Pazzanese, 64, Vila Mariana, tel.: 2143-9500. Das 10h às 14h. Grátis.