Doutrinação vegana pega emprestado o pior do cristianismo

Adoro comida vegana. Falafel, espaguete com molho de tomate, pizza marinara, batata frita, homus, arroz com feijão, frutas, legumes, verduras, ervas, café, azeite de oliva, pão. Pão –o mais básico dos alimentos– pode ser vegano sem nenhuma perda de sabor. Cerveja é um bagulho vegano muito doido.

Quanto ao veganismo, não aprecio demais. Cada um come o que quer, é lógico. E é aí que mora a minha divergência com os veganos: eles querem ditar aos outros o que comer.

Ontem, quando se comemorou o dia mundial do veganismo –você já reparou que 2019 tem pelo menos uma data comemorativa para cada dia?–, pipocaram na internet os gritos de guerra da galera que repudia qualquer produto de origem animal.

O veganismo não é uma dieta, é uma doutrina. Detesto ser doutrinado, catequizado, evangelizado. Voltem para a casinha, donos da verdade.

O pior do cristianismo vive no movimento vegano.

Tudo é pensado para arrebanhar devotos, como a pregação da Igreja Universal do Reino de Deus. O apelo à culpa, com a divulgação de imagens de sangue e morte de animais. “Torna-te um de nós, senão serás uma pessoa má.” Se o chamado não é atendido –a maioria dos casos–, o discurso muda ligeiramente. “Escarraremos na tua cara, carnista.”

Falta só o Diabo com o tridente para espetar a bunda de quem teima em comer picanha.

Além da penitência cristã, há um discurso filosófico para embasar a doutrina. Uma defesa racional do tratamento ético para a bicharada.

Porcamente resumido, o pensamento é: deve-se estender aos animais o tratamento ético que tem sido conquistado por minorias humanas historicamente oprimidas. O especismo –colocar o Homo sapiens acima das outras espécies– equivale ao racismo, à homofobia e ao antissemitismo.

É uma retórica envolvente, bem argumentada e bem fundamentada, convincente. A lábia intelectual distrai o leitor para longe de uma falha fundamental: é impossível aplicar termos como “moral” e “ética” para relações entre humanos e animais.

As regras de convívio social implicam contratos –escritos ou tácitos– sabidos, compreendidos e aceitos por todas as partes envolvidas. Não dá para combinar o jogo com uma vaca ou um coelho. Nem com os peixes, cujo brilho intelectual foi descoberto ontem pelo governo do Brasil.

Comer carne demais é um problema real. A cadeia produtiva tem um impacto ambiental monstruoso. A crueldade contra os animais precisa ser reduzida, se não eliminada.

Mas é preciso ver a questão pelo ângulo oposto: em vez de igualar o animal ao homem, reconhecer a natureza bestial do ser humano.

Não é bonito matar para comer, só que isso nunca vai acabar porque somos carnívoros. Pergunte aos seus dentes caninos. Pergunte a qualquer mulher grávida. Pergunte ao vegano que morde um hambúrguer de soja com a voracidade de uma hiena atacando um leão. Ops, eu quis dizer antílope.

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