Como bombar na internet: mate, frite e coma um pombo

Até a conclusão deste texto, o vídeo “Pombo Urbano com Arroz” teve 377.819 visualizações. Nele, um rapaz identificado por Juão Paulo cumpre o que o título promete: prepara e come um pombo de rua.

Nada contra a columbofagia –eu mesmo já comi pombo, uma vez na vida, em um restaurante besta do norte da Espanha. A quem interessar, é igual a codorna. Pouca carne, muito osso, um tanto seco, nenhuma epifania gastronômica.

O pombo é uma carne de caça comum na cozinha europeia. As aves que vão para a panela foram abatidas em voo, com tiro de espingarda, no mato. Ou são criadas de acordo com as condições sanitárias exigidas por lei.

Já o pombo do Juão é o bicho pestilento que toma banho na água parada do meio-fio. É o pombo da praça da Sé, da Cinelândia, a praga urbana, a ratazana alada. E o Juão, quem é?

É um rapaz franzino, nordestino, com o torso esquálido coberto por tatuagens peculiares, que fala errado e tem um senso de humor autodepreciativo muito aguçado. Seu canal no YouTube tem 773 mil inscritos. Juão faz merchandising de coach, então deve tirar uns trocos com seus vídeos.

Não que Juão esteja rico. Ele tem o perfil típico de um jovem de periferia, que instagrama, tuíta e youtuba diretamente de Extremoz, na região metropolitana de Natal.

Juão virou influenciador digital. Descobriu que o sucesso poderia vir das crônicas de seu próprio fracasso. Então o pombo entra na história.

No vídeo, Juão diz que pegou as aves na rua, com uma armadilha. Mostra os pedaços do animal já depenado. Ele se diz preocupado com a possibilidade de ser punido por crime ambiental e conta que vai “misturar vários temperos para tirar o sabor de doença”. Frita as aves, come e aprova.

Em outro vídeo, feito 12 dias mais tarde, Juão afirma estar doente. Presume que o pombo frito seja a causa. Não tem um diagnóstico. Relata febre, calafrios e diarreia. “A boca da arruela do meu ás de copas não aguenta mais”, poetiza.

Juão não morreu. Já reapareceu firme e forte para narrar seu affair com uma jumenta.

O youtuber potiguar não sabe patavina de alemão, mas personifica como poucos o “zeitgeist” –espírito do tempo. Juão sem noção segue a mesma toada deste Brasilzão. Aposta todas as fichas na ignorância, nos atalhos, esnoba a ciência, usa o ultraje para fazer ruído e, quem sabe, ganhar alguma coisa. Não faz a mais porca ideia de onde essa trolha vai dar. E não se importa com isso.

No começo do vídeo em que frita os pombos de rua, Juão Paulo divaga em águas profundas. Absorto no próprio discurso, diz que a carne de pombo poderia acabar com a fome no mundo. Por que será que nenhum chinês teve essa ideia, Juão?

Juão Paulo não está sozinho. Ele tem a companhia de gente poderosa que apresenta com estardalhaço soluções simples para problemas complexos. Simples porque terrivelmente erradas.

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