A vida é curta demais para comer bife bem passado
Fumei por 18 anos e parei 13 anos atrás. A não ser quando eu incomodava de fato – fumante é um inferno –, nunca fui abordado. Talvez os samaritanos, com razão, achassem que eu tinha o que merecia.
Ontem, enquanto eu comia um filé malpassado em uma mesa na calçada do Zeca Bar F.C., em Ipanema, uma senhora me interpelou. Falou que carne pouco cozida pode dar perebas diversas etc.
Anos atrás, em Berlim, fui tomar café da manhã num lugar todo hipster. Pedi alguma coisa que trazia, entre os componentes, um ovo cozido. O ovo veio com a gema seca, e eu chamei o garçom. Em inglês –meu alemão é pior do que o português do Weintraub–, pedi um ovo extra, desta vez com a gema mole.
O funcionário do restaurante rechaçou meu pedido, pois a lei municipal berlinense manda cozer bem todos os ovos. Espetáculo. Depois soube que São Paulo e muitos outros lugares têm legislação semelhante, mas não a cumprem à risca porque não ficam na Alemanha.
Aprecio que zelem por meu bem-estar, mas acho o fim da picada quando impõem normas estúpidas e inúteis –que servem apenas para irritar, já que burlá-las é a coisa mais fácil do Universo.
Este é um manifesto pela liberação do ovo mole, do saleiro à mesa, do frango ao molho pardo, do queijo de leite cru, da maconha, de qualquer coisa que eu queira consumir sem prejudicar quem está perto de mim.
Se eu decido abreviar um pouco a minha vida por um bife malpassado, é um risco calculado, uma decisão pensada. Não quero viver 120 anos comendo mal.
A vida é curta demais para ser chata.
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