O açougue das paixões perdulárias

Renata e Maurício celebravam 10 anos de casados. Ele preparou uma surpresa e tanto para a mulher. Deu-lhe uma caixa enorme, embrulhada em papel-presente, que Renata dilacerou com entusiasmo.

– O que é, mozão? Dá para sentir que é leve. Um vestido?

Dentro da caixa, ela só encontrou um monte de bolinhas de isopor e, lá no fundo, um bilhete que dizia: “A menor caixa da menor gaveta”.

– Ahhhhh, Mau! Que fofo! Fazendo charadas!

Renata matutou e deduziu: a menor gaveta da casa estava na mesinha de cabeceira da sua cama. Correu para o quarto em frenesi. Afoita, abriu a gaveta e encontrou um pequeno estojo que não estava lá antes.

– Não a-cre-di-to! Uma pedra! Uma joia! Um anel!

Sem abrir a caixinha, Renata agarrou Maurício e começou a enchê-lo de beijos.

– Você é o melhor mozão do mundo! Te amo demais, Mau!

Imóvel, ele falou calmamente:

– Abra a caixa, Rê.

Ela obedeceu. Lá dentro não tinha nenhum diamante. Bulhufas de anel. Necas de pitibiriba de pingente.

Só havia outro bilhete. Meio decepcionada, Renata leu a mensagem: “A bagagem que você leva para o Sol.”

Ela ficou confusa. Demorou a entender, mas entendeu.

– Mau-Mau, meu lindo! Sol! Praia! Viagem! Para onde vamos? Bora-Bora? Ilhas Gregas? Sardenha?

Maurício não disse palavra e manteve a cara de paisagem. Enquanto isso, Renata revirava sua gaveta de biquínis e maiôs. Nada ali. Coçou a cabeça e pôs-se a pensar.

– A nécessaire com os cosméticos que eu levo para a praia!

Abriu o estojo e achou outro bilhete: “onde a brisa gelada mantém o frescor do nosso amor.”

Renata já estava francamente aborrecida. Mas tentou não demonstrar. Sem sucesso.

– É a geladeira, né? Aposto que tem outro bilhete lá.

Maurício apenas estendeu o braço na direção da cozinha, indicando o caminho.

Ela abriu o freezer, mas só encontrou as refeições que a “secretária” prepara para a família e congela. Muxoxo. Talvez na parte de baixo.

Entre potes de iogurte e bandejas de peito de peru, ela viu uma caixa de bom tamanho, toda em madeira de lei. Pegou-a e verificou que a tampa tinha um entalhe com um coração e as iniciais “RM”. Seu coração palpitou.

– Seu louco! Não é possível.

Maurício assentiu com a cabeça. Ela abriu a caixa e arregalou os olhos. Ficou atônita com o que viu. Começou a gritar e pular pela cozinha, como uma criança que ganha a primeira bicicleta.

– Uma picanha!!! Você não se endividou para comprar, né?

Maurício sorriu e falou, meio envergonhado:

– Eu queria te dar um ancho de wagyu, mas este ano está meio devagar lá na empresa…

Ela deu um beijo estalado no marido.

– Não se preocupe, amor! Eu sei bem os perrengues que você passa com a merreca de R$ 33 mil que aquele muquirana do Toledo te paga.

Ele olhou para baixo.

– Verdade, Rê. Mas você merece o mundo!

Levantou o rosto e falou com firmeza:

– Eu te prometo, amor: os 15 anos a gente vai comemorar numa churrascaria rodízio!

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