Por que não comer gatos e cachorros?

Sei que já abordei o tema aqui, mas o noticiário me faz retomá-lo: dois casos assombrosos envolveram crueldade extrema com animais de estimação.

No domingo, estourou o escândalo da rinha mortal de cães descoberta em Mairiporã (SP), com apostas altas e um macabro churrasco de pitbull.

Hoje, a notícia reavivou nas redes sociais um caso que ocorreu em outubro Guarapari (ES). Uma fábrica clandestina de linguiças –feitas com a carne de cachorros e gatos caçados na rua.

Duas ocorrências macabras, não há dúvida.

Agora, tente libertar a mente dos grilhões culturais e pense: em que a rinha de cães é pior do que uma tourada espanhola? Nelas, os touros são torturados para obter a máxima irritação; são inevitavelmente mortos na arena e convertidos em janta.

Em que uma linguiça mista de cão e gato pegos na rua é pior do que uma alheira de caça, feita com aves abatidas no campo?

O problema está nas horríveis condições sanitárias e nos maus-tratos –argumento que, no caso das touradas, é inválido.

Ficamos horrorizados com o hábito de comer bichos de estimação, mas, francamente, por que eles têm foro privilegiado? Vacas, porcos e galinhas têm menos direito à vida? E os coelhos, que são pets e almoço ao mesmo tempo?

Nesse particular, eu tendo a concordar com os veganos. Todas as vidas têm o mesmo valor. Discordo diametralmente no que diz respeito à legitimidade do abate para a alimentação.

Outro dia, no Bom Retiro, conversava com um amigo coreano. Perguntei-lhe se havia algum lugar que servisse carne de cachorro. Ele me respondeu que já houve, mas que esses pontos são sempre fechados pela fiscalização.

Em muitas culturas asiáticas, comer cães e gatos e normal. O ocidental faz careta e chama o outro de monstro. Mas fica indignado quando seus hábitos alimentares são considerados bárbaros por muçulmanos e hindus –os primeiros não comem porco, os segundos são majoritariamente vegetarianos.

Então tá.

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