Água podre destrói o melhor da gastronomia do Rio

Voltei ao Rio para resgatar as últimas coisas deixadas no apartamento em que morei aqui por seis meses. Cheguei com calor de trinta e tantos graus e sem água potável à disposição. O fenômeno inexplicado que contaminou a rede de água da cidade –tornando-a fedorenta e intragável– motivou uma corrida aos supermercados da zona sul. Água mineral, no miolo de Ipanema, só em garrafa de meio litro. Isso era ontem. Talvez até ela tenha acabado hoje.

A podridão da água destruiu a coisa que eu achei mais bacana na cena de restaurantes do Rio: a tal da “água da casa”. Nesta cidade, por lei, todo estabelecimento deve oferecer água filtrada de graça para os clientes.

É um oásis de civilização num território em que a barbárie se infiltra pelas múltiplas fissuras e fraturas. Um relance de Finlândia na Somália do Atlântico.

Demorei a me acostumar. Nos primeiros meses, já havia pedido a água mineral ao garçom quando percebia a jarrinha de “torneiral”, totalmente sem custo, na mesa ao lado.

Neste momento, a água da torneira não serve nem para escovar os dentes. Tem cheiro de bunda, nas palavras do colega Anderson França. E o Rio toma mais uma rasteira na sua combalida autoestima.

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