O maldito vírus que fez o macarrão sumir na Itália

Circula nas redes sociais um vídeo em que um velhote italiano se revolta com a falta de macarrão no supermercado. O lugar fora desabastecido pela fúria de consumidores temerosos do coronavírus.

“Mas por que as gôndolas de massa estão vazias?”, pergunta o homem, visivelmente transtornado. “Não houve pânico assim nem quando a Segunda Guerra Mundial começou.”

Ele então sai de cena pisoteando o primeiro mandamento, empregando o nome divino em toda sorte de pragas –bem como soem fazer os católicos da Itália.

Não sou tão velho quanto o homem do vídeo, mas já tenho um razoável histórico de pânicos globais: Guerra Fria, Tchernóbil, Aids, 11/9, ebola, Sars, gripe aviária, H1N1. Nenhuma dessas ocasiões gerou sensação de insegurança comparável com a do quadro atual.

As autoridades –governos e sumidades da área de saúde– têm vindo a público para pedir serenidade. A letalidade do coronavírus é baixa. Só morrem idosos e pessoas que já estavam doentes. É apenas mais uma gripe dentre tantas.

O problema da propaganda oficial é que o discurso não corresponde à ação. Enquanto pregam a normalidade, as autoridades botam o mundo de cabeça para baixo para tentar conter a epidemia.

Milhões de pessoas são postas em quarentena. Fronteiras são monitoradas à exaustão. Um hospital gigantesco é erguido em dez dias. A China manda todo mundo parar de fazer o que estava fazendo. A economia da China estacionada no meio da rua, isso é normal?

Não tenho conhecimento técnico para avaliar a gravidade da epidemia em si, mas consigo ligar lé com cré. Os sinais emitidos pelos zeladores do mundo criaram o pânico que está aí. Pedir calma agora não funciona muito.

Devidamente medicado e amaciado por quase meio século de estrada, eu tenho preguiça de surtar. Só me preocupa como o coronavírus vai deteriorar as nossas já combalidas relações sociais.

Isso se aplica à etiqueta da alimentação, já que a doença se espalha pela saliva.

Nada de pedir uma mordida do pastel alheio. Não tem mais essa de “passa o sal”. Nem pense em chamar aquela sobremesa gigante do Outback, com várias colheres para todo mundo dividir.

O garçom usa máscara: está doente. Pânico. O garçom não usa máscara: pode estar doente e certamente está desprotegido. Pânico máximo.

O coronavírus pode esvaziar restaurantes e ruas. Cada um de nós almoçando e jantando em casa, sozinho, desconfiado do pai, do filho, do cachorro e da própria sombra. Cozinhando de qualquer jeito qualquer coisa que tenha sobrado nas prateleiras do supermercado.

Isso nos leva de volta ao velho brabo do vídeo. Ele está coberto de razão. Esse maldito vírus fez sumir o macarrão na Itália. Gente, isso é um justo motivo de revolta.

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