O mundo realmente precisa de um café temático do Romero Britto?

Inaugurou, com pouco estardalhaço, a primeira loja do Britto Caffè –marca de propriedade do artista plástico Romero Britto, aquele dos gatinhos coloridos.

Britto pretende criar a “maior e melhor” rede de cafeterias do Brasil, segundo a missão declarada no site da empresa. Esperemos. A localização da loja número 1 é adequada, o Shopping Ibirapuera, em Moema, zona sul de São Paulo.

Falando sério: o mundo precisa mesmo ser invadido por cafeterias temáticas do Romero Britto?

Além: para que o mundo precisa de restaurantes, bares e cafés temáticos?

Esses lugares são invariavelmente cafonas e quase nunca servem comida que preste. Porque a cozinha vem abaixo do “conceito”.

Quando eu era adolescente, meus pais me pagaram uma viagem à Disney (sim, sou desses, mas sem babá). O pacote, um horror, incluía um jantar em um tal de Medieval Times. Acabei de checar: o lugar ainda existe no mesmo lugar, uma cidade chamada Kissimmee, perto de Orlando.

O lance no Medieval Times era comer comida supostamente medieval enquanto se assistia a uma encenação supostamente realista de um torneio de cavaleiros em armadura.

O que era comida medieval? Bem, os talheres não haviam sido inventados… então dá-lhe um frango assado para ser comido com as mãos. Além disso, não havia na Europa ingredientes oriundos das Américas, como tomate e batata. O restaurante tomou o cuidado de excluí-los da sopa de legumes.

O cardápio era frango, sopa de legumes e cheiro de estábulo.

Ambiente medieval também é a pegada do Walfenda, um restaurante na Vila Romana, zona oeste de São Paulo. Mas lá a comida é surpreendentemente boa: carnes assadas no fogo de lenha, feitas com capricho. Pena que a irritante experiência meio Harry Potter, na companhia dos incels, desvie totalmente a atenção.

Mesmo quando a temática é mais discreta –caso de lugares como o Hard Rock Cafe–, é impossível não se sentir numa sub-Disney ou, sei lá, em Gramado. Outro dia vi na rua uma mulher com uma camiseta do Hard Rock de Dubai. É para isso que as pessoas torram fortunas em viagens aéreas?

Voltando ao café do Romero Britto, o que os clientes esperam encontrar? Comida certamente não é, já que o site do lugar promete pokes, sanduíches naturais e frutas selecionadas.

Admirar a obra do artista? Improvável, porque quem procura um lugar desses certamente tem alguma reprodução do Britto na parede de casa.

Ah, deve ser o astral. Na fanpage do Facebook, o Britto Caffè se descreve como “o lugar onde a positividade, a alegria e o amor tomam conta de cada cantinho”.

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