Quem é Regina Duarte na fila do restaurante por quilo?

Que surpresa! A mesa de café da manhã da campanha presidencial de 2018, com leite condensado no pãozinho e faca de cabo de plástico, era fake. Cuidadosamente encenada para colar em Jair Messias Bolsonaro a imagem de um homem do povo.

Já a festinha de Regina Duarte num quilão me parece mais crível. Depois de empossada, a secretária especial de Cultura reuniu amigos e apoiadores num bufê frango-vegetariano em Brasília. Com suco na taça de vinho, para ninguém dar vexame.

Por que a ex-namoradinha do Brasil merece o benefício da dúvida? Em primeiro lugar, porque fontes fidedignas me deram um furo quentinho (para coadunar com o humor palaciano do momento). Parece que Regina está prestes a se tornar habitué do estabelecimento, um endereço sem glamour global na Asa Norte.

Segundo e mais importante: a ex-Malu Mulher é uma senhora de 73 anos. Sem apelar para eufemismos patéticos como “melhor idade”, é uma pessoa velha. Não muito tempo atrás, eu a vi na sala de espera de uma afamada clínica na região da Paulista, de cara lavada e roupa de ir ao médico: uma distinta tiazinha, idêntica a uma certa atriz da televisão.

Velhos amam restaurantes por quilo!

Eu, que sigo resoluto na meta de me tornar cada dia mais velho, começo a entender esse amor –embora ainda deteste o esquema dos bufês.

A paciência com mesuras e salamaleques evapora enquanto a idade avança. Sem muito mais tempo a perder, o indivíduo passa a valorizar a praticidade, em detrimento de rituais sociais demorados.

No restaurante por quilo, cada um se serve apenas do que mais gosta, na quantidade que lhe convém. É por isso que tais lugares também são conhecidos por “serve serve-se” –atenção, revisão: isto é só uma piada ruim.

Ninguém precisa se preocupar com o sobrinho vegano, ninguém precisa chorar o dinheiro desperdiçado com a neta bulímica. Cada comanda, uma sentença.

Já vi acontecer muito na minha família, tanto a sanguínea quanto as agregadas, em enfadonhos almoços de aniversário ao redor de aparadores de alumínio, com feijoada ressecada e couve cinzenta no réchaud.

Mas que personagem a ex-Viúva Porcina encara na fila do quilão?

Será que ela deixa a bolsa na mesa para guardar lugar enquanto se serve? Será que ela acaba com as bolinhas de mozarela de búfala da salada de rúcula? Será que ela reclama da batatinha murcha e segura a fila até fritarem outro tacho?

Será que a ex-Rainha da Sucata mistura bobó de camarão, tabule, lasanha e pastel de queijo, tudo na mesma pratada? Será que ela gosta do cafezinho velho, grátis e terrivelmente doce oferecido na saída? Será que ela arredonda o valor da conta com um Trident de canela?

Será que o comportamento de Regina Duarte reflete uma velha típica ou uma talentosa atriz, em laboratório para interpretar uma política populista? Dirá o tempo, que não é amigo de ninguém.

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