No apocalipse da Covid-19, só vão sobrar o hambúrguer e a pizza
– Galeteria Imperador do Poleiro, boa noite.
– Boa noite, eu gostaria de encomendar dois galetos e uma porção de farofa, por favor.
– Infelizmente não será possível. O galeto está em falta.
– Uma picanha, então.
– Desculpe, senhor, mas não estamos servindo carnes durante a epidemia de Coronavírus.
– O que vocês podem me entregar?
– Pizza. Mais de 20 sabores.
– Que mais?
– Contratamos um chapeiro ontem. Agora também fazemos hambúrguer.
– Nada diferente disso?
– Temos ainda a pizza de hambúrguer. E o hambúrguer à pizzaiola.
Enquanto a pandemia avança, e os restaurantes –com os salões fechados há mais de dois meses– perdem fôlego, transcorre a devastação silenciosa da variedade gastronômica brasileira.
Compreensivelmente, os cardápios foram reduzidos para simplificar a operação, enxugar custos e aumentar a eficiência do sistema de entrega de comida –o único possível neste momento.
À medida que cresce o desespero, muitas casas têm radicalizado ainda mais. Restaurantes italianos chiques (como o Evvai) deslocam o foco para as pizzas, enquanto outras casas passam a servir hambúrgueres.
Pizza e hambúrguer são dois clássicos da comida de entrega e, sobretudo, operações de baixíssima complexidade com margem particularmente alta.
Ambos os modelos de negócio, entretanto, demandam uma venda volumosa para que o faturamento pague as contas. Aí está o risco da aposta dos restaurantes: será que os clientes vão se comportar como eles esperam?
Outro estrago colateral é a saturação dos nichos de pizza e de hambúrguer, que pode contaminar estabelecimentos tradicionais nessas especialidades.
Parece que o all-in do ramo da alimentação é um fenômeno global, já que até o übermegabadalado Noma, de Copenhague, passou a oferecer um hambúrguer no cardápio.
Esperemos que a tática funcione para manter o setor respirando. Ainda assim, o dano na gastronomia será avassalador e de difícil recuperação.
Aliás, múltiplos e-mails me avisam que hoje é o Dia do Hambúrguer. Um efusivo parabéns a você, hambúrguer!
Como diz a cantora Kátia, não está sendo fácil.
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