São João da quarentena é um show de picaretagem e desespero
Bem sabemos que iaiá e ioiô vão ficar sem pular a fogueira este ano. Já Elvis festa junina. Zé fini São João. Conformemo-nos, dá para viver sem. Seguimos vivendo sem tanta coisa que achávamos essenciais…
Os setores de indústria e comércio de alimentos não se conformaram. Inventaram picaretagens absurdas para tentar faturar um pouco, que seja, com as vendas temáticas juninas durante a pandemia.
Chegou hoje um e-mail de um shopping no Morumbi (quando estas três palavras andam juntas, nunca é boa coisa) anunciando um “arraiá drive-thru”. Mas como?
Fico imaginando o sujeito entrando com sua Hilux no estacionamento e sendo abordado pela manina do correio elegante.
“Bilhete da moça do Corolla cinza.”
Todo pimpão, o ioiô abre o tal bilhete para ler: “Seu pneu está no chão”.
Provavelmente não será tão divertido assim. Deve ser só uma aglomeração automotiva para pegar pipoca, pé de moleque e pamonha. Sair de casa para buscar pamonha no estacionamento do shopping, quem merece?
Para quem fica em casa, a plataforma de entregas Rappi criou uma seção batizada de “Festa Junina”. Aí você abre e cai numa lojinha da Perdigão. Clica em “caldos” e, shazam!, aparece uma linguiça. Interessante. Vai à subseção “pipoca” e encontra o quê? Um produto chamado chicken popcorn, que consiste em croquetinhos de frango. Sério, Perdigão?
Falando nas coisas que dizem ser o que não são, uma mensagem anuncia uma receita de “releitura de vinho quente com cerveja”. Cadê aquele emoji do rosto que derrete?
Quando você supera o labirinto linguístico e vai à tal receita, percebe que não há vinho, só cerveja e especiarias. Acho que a Ambev, por alguma razão, não aprovou um release com a expressão “cerveja quente” no título.
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