Quem não sabe se o abacate está maduro merece lavar banheiro
Entre os muitos tutoriais da pandemia –até o meu dulce de leche e uma matéria minha sobre hambúrguer viraram slideshow– topei com o seguinte título, aqui na Folha: “Aprenda a identificar quando as frutas estão maduras.”
Hã? Achei absurdo. Passado o susto, ponderei: a escolha editorial está correta. Certamente tem um monte de gente que não sabe a hora certa de comer uma banana. Tem de tudo neste mundão.
A fruta que ilustrava a chamada era um abacate. Gente, abacate verde é duro e pesado como um tijolo. Não dá para achar que um abacate verde esteja maduro. Mas sei –e não há nada de irônico nesta suposição– que uma parte nada desprezível da elite brasileira só deve conhecer o abacate depois que alguém o bateu com leite, limão e açúcar.
Na segunda-feira (3), escrevi sobre as lições que a pandemia me ensinou. Agora, escrevo sobre a terrível ignorância que a crise da Covid-19 revelou.
Os ricos e remediados brasileiros ficaram no mato sem cachorro quando precisaram dispensar (com ou sem pagamento) as empregadas domésticas.
É uma galera que não lavava prato, que sequer tirava a mesa, que não cozinhava –daí a enorme identificação e o sucesso das Chefs na Quarentena no Instagram, com seus hilários desastres culinários.
É uma turma que não sabe dobrar lençol. Que ficou perplexa com a montanha de pó que se acumula quando você não varre a casa. Que fica perdida na frente dos produtos de limpeza da lavanderia –o que serve para quê?
Quem não sabe identificar um abacate maduro merece lavar um banheiro bem cascudo.
Palavra de quem aprendeu a faxinar banheiro em abril de 2020.
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