Jamais nos libertaremos dos horríveis sachês de ketchup

Outro dia, voltando de viagem, cheguei a SP um pouco antes das 15h, sem almoçar. Se fosse cozinhar ou pedir comida, a demora seria torturante. Perto de casa tem uma hamburgueria dessas de rede, mas com qualidade bastante razoável. Estava vazia. Parei para comprar um sanduíche, algo marcante em 2020 –havia vários meses que eu não levava meu pesado corpinho a nenhum bar ou restaurante.

Reparei em algo enquanto, do lado de fora, esperava o pedido ficar pronto: as bisnagas de ketchup, mostarda e molho barbecue haviam sumido. Óbvio e correto. Se você não pode apertar a mão de ninguém, melhor não pegar um tubo de ketchup com a baba de um corongado desconhecido.

Pensando bem, muito bem de verdade, o tubo de ketchup compartilhado é um lance bem eca.

Quando eu cresci, nos anos 1980, as lanchonetes serviam os condimentos em bisnagas genéricas: vermelha para o ketchup, amarela para a mostarda. Os adolescentes espírito-de-porco deixavam frouxa a tampa, para que o cliente seguinte causasse um desastre imundo. Os adolescentes mais escrotos ainda cuspiam lá dentro e encaixavam de volta a tampa.

Mas… só para lembrar que existiu um mundo anterior à pandemia, eu os adoro. Não os adolescentes-diabos. O tubo de ketchup. A garrafa de azeite. O saleiro.

Todos vão sumir dos restaurantes, se as autoridades sanitárias forem minimamente competentes.

Serão (foram) substituídos pelos pavorosos sachês. Um horror de design, funcionalidade e estética. Necessários para frear a contaminação, porém.

Fico imaginando como um restaurante de luxo justifica a presença de sachês de sal Lebre sobre suas toalhas de linho egípcio de um bilhão de fios.

É mais uma das pegadinhas de 2020… sermos reféns dos horríveis sachês. Jamais nos libertaremos deles.

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