O termopólio mais boêmio do Baixo Pompeia

Pompeia, ano 79 DC*

 

– Nícia, minha flor helênica. Cadê a minha ânfora de vinho? Essa taverna já foi melhor…

– Olha como fala, Crasso. Aqui é um termopólio de respeito. Chega de vinho para você. Estou fechando mais cedo hoje. O Vesúvio está de mau humor.

– Por Júpiter, minha grega! Você acredita na extrema diurna? Estão fazendo de tudo para derrubar o imperador Tito. O Vesúvio está aí desde o tempo de Rômulo e Remo… sem ele, não haveria agricultura, e sem o agrum não haveria a grandeza de Roma!

– Você já bebeu demais, Crasso. Duílio, vamos fechar a cozinha. Mais algum petisco?

– Meu amor, manda um aquele fígado de andorinha com mel que só você sabe fazer!

– Acabou. Tenho caracóis. Já disse, estou fechando.

– Só isso? Nem uma azeitona da Catânia?

– Tem também um restinho de cabrito, de porco e de peixe. É pegar ou largar.

– Dá uns caracóis para eu levar para a Fábia. E passa a regula.

– Como assim, meu considerado Duílio? Você também caiu nessa conversinha de vulcão?

– Não está muito seguro ficar na rua em Pompeia nestes dias, Crasso. Vou me abrigar em casa.

– Maricas. Isso é coisa daqueles cristãos, bando de pervertidos. Olha só, dizem que o líder deles andava com prostitutas e dividia o pão até com mendigos. O que eles fariam conosco, os patrícios, se chegassem ao poder?

– Belo patrício, você, Crasso. Gastou cada sestércio da família da Clélia em vinho barato nos termopólios de Roma, Massília, Siracusa e Cartago. Um bebuns de primeira, isso é o que você é.

– Você vale menos do que um escravo núbio, Duílio. Fala como um cristão. Quer destruir a herança cultural greco-romana. Cristopata!

– Você já bebeu demais, velho. O que foi, Nícia?

– Gente, precisamos correr. O Vesúvio está furioso. Vamos fugir de Pompeia.

– Vem, Crasso!

– Não encoste em mim. Duílio. Vai lá, Coriolano. Fracotium! Pode fugir também, Caio! Nícia, sua grega suja, meu vinho!

– Beba tudo o que quiser, velho louco. Mas deixe-nos levar o cachorro.

– Não, o Rex fica comigo. Ele também não dá ouvidos às falsum nuntium.

– Vamos beber, meu bom cão, porque sou um cidadão de bem, pago meus impostos em dia e mereço atendimento VIP. Fica aí quieto enquanto vou buscar outro vinho. Esse Vesúvio não é de nada, é um bosssshhhhhhhhhhhhh………..

 

*Este é um texto satírico, sem compromisso com fatos históricos ou gramática latina. Os nomes dos personagens são inspirados nas ruas da Vila Romana, bairro da zona oeste de São Paulo

 

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