A ruína da cantina escolar e a desgraça de ser criança na pandemia
Meu filho, hoje com 8 anos, tinha um projeto no comecinho do ano passado, quando mudou de escola: chegar logo ao terceiro ano para poder comprar o próprio lanche na cantina.
Veio a pandemia.
Agora, mesmo com o coração na boca, mandamos o moleque de volta às aulas presenciais. Em outra cidade, em outra escola ainda. No terceiro ano, afinal. Mas sem cantina.
O pirralho ficou desapontadíssimo.
Eu entendo e concordo que não se devam abrir as cantinas escolares neste momento. Isso não me impede de sentir muito pelos microempresários que perderam o sustento; e muitíssimo pelas crianças que tiveram a autonomia roubada (ou, no caso do meu filho, adiada indefinidamente).
Lembro da minha própria alegria quando pude, finalmente, levar uns trocados para comprar meu próprio lanche. Até então, morria de inveja dos garotos na fila da cantina. Eu comida algo frio que a mãe havia preparado –decerto comida muito melhor, mas isso não me interessava.
Onde eu estudava, havia a cantina para comprar a comida, sanduíches gordurosos feitos na chapa e uns doces cheios de corantes e aromatizantes que hoje devem ser proibidos. Havia, no outro lado do corredor, uma despensa desativada onde ficava a dona Nena, que vendia refrigerante em temperatura ambiente.
Aquele era o gostinho morno da liberdade!
Quando conheci o bandejão da USP, muitos anos depois, meu entusiasmo com a merenda escolar já estava bastante arrefecido.
As crianças da geração Covid não podem escolher o próprio lanche nem passar fome no recreio para comprar chiclete na saída. Isso é uma desgraça. Só mais uma dentre as várias desgraças para quem cresce na pandemia.
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