Quem precisa comer cebola frita no meio da madrugada?
A resposta curta, objetiva e rabugenta é: ninguém. Ainda assim, acho um alento que a Outback Steakhouse agora entregue cebolas gigantes e costelinhas doces madrugadas adentro.
Porque São Paulo, a tal cidade que nunca dorme, vem desistindo da madrugada. E a madrugada é legal, mesmo que eu só a use para dormir –são as melhores horas da maioria dos meus dias, ultimamente.
Nos anos 1990, a cidade de fato funcionava 24 horas por dia. Tinha lanchonete, bar, restaurante, pizzaria, banca de revista –alguém aqui sabe o que é isso?–, café, supermercado que nunca fechava. Em todo canto, não só nos Jardins ou em Pinheiros.
Lembro do Pasta e Vino, que ficava na Barão de Capanema coma Peixoto Gomide, no imóvel onde hoje é o Myk. Lasanha honestíssima (ou eu achava que era) a qualquer hora do dia ou da noite. As festas, muitas vezes, terminavam lá. Uma vez, acho que era 1993, tive insônia na madrugada de domingo para segunda e decidi sair sozinho, às 4h, para comer um penne all’arrabiata.
Não muito longe dali, na rua da Consolação, ficava a Casa do Padeiro. Uma lanchonete que não tinha nada de excepcional –fora o fato de estar aberta quando todo o resto fechava. Houve um Carnaval em que eu trabalhei no plantão do finado Notícias Populares. Jornal fechado, só achamos a Casa do Padeiro para beber. Como estávamos em época de folia, passamos a chamar o lugar de Casa do Pandeiro. Hoje, no endereço, funciona uma estimulante loja de ferragens.
Com o avanço da idade, diminuiu meu entusiasmo pelas noites longas –e parece que a cidade acompanhou o arrefecimento. Em frente ao apartamento onde moro desde o ano 2000, há um supermercado Pão de Açúcar que, na época da minha mudança, funcionava 24 horas ao dia.
Eu adorava porque podia comprar a qualquer hora cerveja e cigarro –eu fumava muito e advogava pelo direito de fumar em espaços públicos, mas já não sou aquele cara.
De uma hora para outra, a conveniência tornou-se suplício. O mercado vendia vodca, refrigerante, gelo e copos plásticos para grupos de jovens que passavam a madrugada fazendo barulho na calçada. Teve uma turminha que levou violão e cantou a noite toda. E o Pão de Açúcar dizia que nada podia fazer, porque a zona estava fora da sua propriedade. Eles, aliás, expulsavam as galerinhas de lá para a porta da minha casa.
Eu comemorei quando o supermercado passou a fechar de madrugada. Também fecharam muitos outros mercados, bares, restaurantes e outros serviços que trabalhavam dia e noite. Não sei se é uma tendência regional ou global, mas o fato é que as baladas já estavam quase extintas antes da pandemia chegar.
Assim, vejo com bons olhos que o Outback do shopping Santa Cruz tenha começado a entregar de madrugada. Mesmo que eu não goste demais da comida deles. Porque todo sinal de vida, neste momento, é bem-vindo.
Mas, que diabo, Outback, o tal sanduíche com “telhado” de bacon em cima do pão? Não pode nem falar bem, e os caras me chegam com um negócio desses…
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