Comida de hospital
Comida de hospital é sempre ruim. Mesmo quando não é tão ruim ou, vá lá, é boa. É ruim, obviamente, porque é comida de hospital. Ninguém gosta de estar num hospital, ninguém vai fazer uma boquinha no hospital.
Existem três tipos de comida de hospital.
Há as refeições servidas para os pacientes e, com pequenas concessões dietéticas, a seus acompanhantes de quarto.
Há as cantinas, cafeterias, lanchonete, não importa o nome dado ao concessionário que prepara uma comida menos, digamos, hospitalar.
E há as máquinas de chocolate, biscoito, salgadinhos e todas as porcarias que, consumidas em excesso, levam uma pessoa saudável ao hospital.
Afirmo, sem um pingo de orgulho, que tenho conhecimento razoável de todos esses tipos de comida. Já estive internado e engoli o pior purê de batata da face da Terra – como alguém estraga um purê de batata é um mistério que persiste.
Nas idas e vindas do meu pai, que acabou morrendo num hospital, tornei-me frequentador assíduo da máquina de porcaritos e da cantina.
Nesse café havia um bufê noturno de sopas. Não existe comida mais de hospital do que sopa de mandioquinha. Eu ia na canja, que era até gostosa, porém de hospital. Canja, para mim, lembra a morte do meu pai.
Resolvi falar de comida de hospital por dois motivos.
Primeiro porque, por razões contrárias à minha vontade, devo voltar a encarar o rango hospitalar. Agora é a mãe que está internada, com problemas na vesícula. Espero que se recupere logo, mas que fique no hospital e com a comida de hospital pelo tempo necessário.
A segunda razão: se você pegar Covid-19 e precisar ir a um hospital, qualidade da comida será o menor de seus problemas. Aliás, sorte daqueles que não têm um tubo enfiado na traqueia e podem desfrutar da comida ruim de hospital.
Cuide-se.
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