Brasil, ouro olímpico na maratona de lasanha
João Carlos Apolonio é pintor de paredes em São Paulo. Na quinta-feira, 15 de julho, ele acordou antes do sol nascer e comeu oito pães com ovo.
Na hora do almoço, João dirigiu-se a um restaurante de massas que oferece rodízio, sem limite de consumo, por módicos R$ 19,90. Comeu nove pratos de lasanha, sete de nhoque e três de macarrão. Outras fontes dizem que ele devorou 15 refeições no total.
Tanto faz, porque depois João voltou lá e mandou 35 porções de comida italiana para o bucho.
O homem é um atleta. Um campeão. Um competidor com patrocínio –do próprio restaurante que, no típico storytelling das redes sociais, o teria expulsado por causar prejuízo.
Se o Brasil não é uma potência olímpica, a culpa é de quem escolhe as modalidades da Olimpíada. Nossa pátria é um celeiro de talentos desperdiçados pela falta de sensibilidade do COI.
Somos imbatíveis nos esportes de mesa e balcão. Topamos qualquer desafio para quebrar a banca do open bar. É uma tradição antiga.
Ainda no século passado, eu e meus colegas estudantes frequentávamos um estabelecimento chamado Grupo Sérgio. Era um salão enorme e feioso, por onde circulavam garçons com pizza, churrasco, frango frito, lasanha, tudo qualquer nota e tudo à vontade por preço fixo.
Íamos para competir quem comia mais. O campeão da turma era o Tchê, mais de 40 fatias de pizza, que só não se tornou o Senna dos rodízios por falta de apoio de algum banco estatal.
Se fôssemos americanos, a coisa seria diferente. Há poucos dias, no 4 de Julho, um canal de esportes transmitiu para o mundo todo um concurso de comer hot-dog que rola todo ano, sempre nessa data e sempre com o mesmo vencedor. Neste ano, Joey Chestnut enfiou goela abaixo 76 salsichas em 10 minutos.
Enquanto São Paulo cria atletas de ponta na maratona de lasanha, o Rio é um polo de excelência nos chamados esportes de botequim. É toda uma avenida de modalidades a ser explorada nos Jogos Olímpicos do futuro.
Se pode golfe, por que não mata-mata de sinuca com bolas azuis e vermelhas? Se luta greco-romana é esporte olímpico, por que não seria o braço-de-ferro? Se aceitam pingue-pongue, qual o problema com truco, dominó e pebolim?
Os cariocas são tão craques nas disputas de bar que oficializaram a coisa com os Jogos de Botequim, realizados pela última vez em fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia.
Há esportes clássicos –caso do pega-bolacha, em que o atleta, com uma só mão, vira e cata no ar uma pilha de bolachas de chope que cresce a cada rodada.
Outros são pura inovação, fruto da genialidade olímpico-desportiva do brasileiro do Rio de Janeiro. Está nessa categoria o frescobol de amendoim, disputado por duplas: o jogador 1 atira o amendoim na direção da boca do jogador 2, que engole o petisco e atira outro amendoim para o parceiro.
Pode engasgar? Pode. Mas quem disse que rodopiar no cavalo com alças é sensato e seguro? É preciso correr alguns riscos para galgar os degraus da glória olímpica.
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