Cai a neve, sobe o preço da comida na feira

Fomos presenteados ontem com aquelas imagens que pipocam no inverno ano sim, ano não: neve no Sul, crianças fazendo guerra de bolas de neve e bonecos de neve invariavelmente bisonhos. Quanto à aparência destes, podemos botar a culpa na falta de prática –mais umas 40 nevascas e os moleques aprendem.

Datena ficou fofucho e disse que a Serra Gaúcha parecia a Suíça. Tudo é festa na neve subtropical brasileira.

Sinto interromper o Carnaval branco para dizer que a onda de frio –a mais intensa em muitos anos– só piora a situação do país. Nem falo dos sem-teto que morrem de hipotermia ou dos sinais alarmantes de que a mudança climática chegou antes do esperado.

Falo de efeitos imediatos no bolso e na mesa da população. Esqueça lareira, vinho, chocolate quente e sopinha. O que teremos é: falta de comida e, onde houver comida, comida mais cara.

A neve e a geada estão liquidando com as lavouras de frutas e hortaliças em geral. Verduras e ervas totalmente queimadas pelo frio. Café e uvas viníferas também afetados de forma violenta. O resultado é: feira desabastecida, e os poucos vegetais longe da melhor forma, com preço nas alturas.

Também foram destruídas as pastagens nas regiões Sul e Sudeste. Portanto, é necessário comprar mais ração para os animais de pasto. A consequência final é inflação também em leite, laticínios e carne.

O estrago na agricultura já elevou a expectativa da inflação do ano para além dos 7% –índice oficial bem abaixo da alta das etiquetas do supermercado.

Já temos a inflação do dólar, que nos faz pagar a cotação internacional de commodity nos alimentos produzidos domesticamente. A alta na conta de energia –causada pela seca monumental– empurra os custos da produção de comida, coisa que só vai piorar até o fim do ano.

Saladas, legumes, folhagens em geral, hortaliças de pequenos produtores eram alimentos que até agora escapavam do tufão inflacionário. Não mais. É só mais uma desgraça num país afundado até o queixo na fossa.

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