Pão ‘terapêutico’ é a cloroquina da alimentação
Recebo muitos e-mails, todos os dias, com sugestões de pauta. A maioria dessas mensagens de assessores é irrelevante e desinteressante: a abertura da 193ª filial de uma rede de pastelarias, a hamburgueria que é sensação em Bertioga, receita do bolo de cenoura do chef que tem 1.500 seguidores no Instagram.
Muito difícil aparecer uma sugestão aproveitável. Menos raro é chegar um release que se destaca pelo absurdo.
Hoje apareceu um desses: a nutricionista Fulana de Tal (não vou fazer propaganda grátis) dá a receita de um pão “terapêutico”, que resolve uma pá de problemas de saúde.
Na linha de assunto do e-mail, o tal pão é anti-inflamatório. O texto da mensagem enumera outros milagres do pão: ele diminui a produção de gordura, controla a glicemia e, veja só, reduz a vontade de comer doces e “alimentos específicos”. Asse um pão de aveia com linhaça e nunca mais sonhe com churros ou lasanha! É a cloroquina alimentar.
Já estava careca de saber da picaretagem da tal alimentação funcional, da coxinha fit e assemelhados, mas nunca nesse nível.
Os sites da nutricionista curandeira usa termos vazios de significado como “reiniciar o corpo”, “reprogramação hormonal” e “ativar os genes da saúde”. Fala-se lá também de aumentar “a performance” de funcionários com um cardápio baseado nessa cascata. A pessoa promete, nada menos que isso, uma “ferramenta de felicidade”. Tudo “cientificamente comprovado” com pesquisa feita no Canadá.
Descalabros assim só vicejam porque não falta gente disposta a comprar terrenos na Lua. As pessoas acreditam no que querem acreditar.
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