Mageirocofobia, o medo de cozinhar

Ontem (13) descobri que o medo irracional do número 13 tem nome: triscaidecafobia. E que se chama parascavedecatriafobia a aversão à sexta-feira, 13. Ou seja: ontem.

Analogamente, o medo do 666 –o número de besta, bu!– é denominado hexacosioihexecontahexafobia. Não é possível, a Wikipédia está de sacanagem comigo. Em 30 idiomas.

Acometido de ergasiofobia (medo excessivo ou irracional de trabalhar), passei a manhã e parte da tarde náufrago na internet, na busca vã por um tema para esta coluna. Acabei encalhado numa página que lista os nomes estranhos de fobias ainda mais estranhas.

Vocês sabiam que existe um trem chamado bifobia? “Bom assunto”, pensei, “fobia de bifes e carnes que leva ao vegetarianismo.” Nada disso. É preconceito contra a bissexualidade.

Até que encontrei o termo mageirocofobia, belo nome da fobia de cozinhar.

O negócio é sério e se parte em várias subcategorias. Tem gente com medo de se contaminar com a comida. Gente com medo se queimar. Medo de se cortar.

Há os mageirocofóbicos que não podem ver uma receita pela frente. Acham tudo complexo demais para executar de acordo com a prescrição.

Não encontrei o termo específico para uma fobia culinária muito comum, o pavor das panelas de pressão. Digite “panela de pressão” no Twitter e confira lá: mais de metade dos resultados será sobre o medo de operar a coisa. (Não faça a busca no Google, a não ser que queira ver anúncios.)

A panela de pressão sibila, apita, gira e solta vapor, mas é para tanto? Claro que uma explosão na cozinha é algo desagradável, para dizer o mínimo, mas acidentes são raríssimos. O pessoal deveria ter medo é do botijão de gás, a bujogasfobia (ok, essa aí eu que inventei).

A implicância com a panela de pressão não ocorre apenas entre mageirocofóbicos amadores que vivem à base de marmita e delivery. Muitos são os chefs que não gostam nada do utensílio –só o micro-ondas tem menos prestígio entre os cozinheiros profissionais.

Aí não é uma questão de medo, mas de preconceito classista contra o arsenal das cozinhas domésticas. Alguns chefs vão alegar que a pressão –que eleva a temperatura de fervura da água e acelera o cozimento– altera para pior a textura dos alimentos.

O argumento parece birra de quem tem estrutura e pessoal para deixar o caldo, a carne dura ou o feijão no fogo por horas e mais horas, numa panela convencional.

O maior problema da panela de pressão é não permitir muito n controle sobre o processo. Você tampa a bichinha, espera chiar e aí espera os minutos indicados na receita. É meio uma coisa de fé. Com alguma experiência, você aprende os tempos de cozimento de cada alimento.

Sou fã e defensor da panela de pressão. Gosto tanto que sonho em comprar uma elétrica, mas esbarro no medo. O medo racional de ficar sem dinheiro –um aparelho desses custa uma fortuna.

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