Consumidor brasileiro disputa arroz com porcos, vacas e galinhas

O curta-metragem “Ilha das Flores”, do cineasta gaúcho Jorge Furtado, usou piruetas narrativas engraçadinhas para mostrar o horror do Brasil real: um lixão de Porto Alegre em que pessoas pobres disputavam comida com porcos.

As pessoas já entravam na disputa derrotadas –pois o dono dos animais só liberava a entrada dos miseráveis depois que seus funcionários já haviam separado, para a lavagem, as sobras menos abjetas dos dejetos alimentares que os caminhões de lixo despejavam na tal imunda Ilha as Flores.

Esse era o distante ano de 1989. Trinta e dois anos depois, toda a população brasileira disputa comida com os porcos. E com os frangos e com as vacas.

É que o mais recente vetor de pressão na inflação dos alimentos vem da pecuária. Como noticiou esta Folha na segunda-feira (16), a demanda da indústria de rações pode fazer o preço do arroz subir ainda mais.

Os produtores de proteínas –eufemismo para a criação em escala titânica de suínos, bovinos e galináceos– cresceram os olhos em cima do arroz devido a uma inversão no mercado de commodities.

Normalmente, um saca de arroz valia 1,3 saca de milho, então era vantagem alimentar os bichos com milho, mais barato; só que agora é o contrário, e uma saca de milho paga 1,3 saca de arroz.

Com os pecuaristas comprando mais arroz, diminui a oferta para o consumo humano, e a alta do preço é uma tendência lógica.

De novo, as pessoas pobres perdem antes mesmo da largada.

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