Ir ao bar sem vacina equivale a dirigir bêbado
Ricardo Nunes perdeu a oportunidade de fazer a coisa certa.
Como previsto, o setor de bares e restaurantes recebeu mal a proposta da Prefeitura de São Paulo de exigir um passaporte vacinal para os clientes. A medida buscava vetar o atendimento para pessoas adultas que não tenham tomado pelo menos a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Mas o prefeito cedeu à pressão e, horas depois de anunciar o controle rígido, recuou e afirmou que o passaporte será “opcional”.
Além de questionamentos de ordem técnica (como as supostas complicações de um aplicativo que ainda não foi apresentado), os representantes do setor alegam que o tal passaporte discrimina alguns grupos. Em especial, visitantes de lugares em que a vacinação está atrasada e pessoas com problemas de saúde que as impedem de receber o imunizante.
Quanto aos forasteiros, basta o prefeito relaxar a exigência de comprovante de residência para tomar a picada em São Paulo. De mais a mais, o argumento é fraco porque a aplicação da primeira dose em adultos já está avançada em todos os Estados.
O caso das pessoas que não podem se vacinar por motivos de saúde nem merece comentário, mas vá lá: essa gente não deveria se expor ao risco na pandemia, pode esperar em casa, sem ir ao boteco, até a peste passar.
O motivo oculto do descontentamento dos donos de restaurante é outro: eles não querem desagradar uma parcela da clientela que se recusa a tomar a vacina por convicção doutrinária. Indivíduos que encaram a imposição do passaporte como um cerceamento às liberdades individuais.
Sou 100% a favor de garantir aos cidadãos adultos o direito de fazer mal a si mesmo, desde que não prejudique os outros. Quer usar drogas, usa. Quer se matar, se mata. A questão do passaporte é bem diferente.
Vou usar uma metáfora etílica, já que estamos falando de bares.
Um pinguço quieto em casa só faz mal a ele mesmo. Se o bêbado sai dirigindo pela idade, coloca em perigo todo mundo pelo caminho. O antivacina no bar é como um motorista embriagado: arrisca as vidas dos outros clientes e dos funcionários.
É justo, portanto, vetar a presença e não-vacinados nos espaços públicos de São Paulo. Tem a primeira dose para todo mundo, é só arregaçar a manguinha para exercer o sagrado direito de ir e vir.
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