Como conseguíamos almoçar sem Insta, Zap e Face?

Eu almoçava num restaurante quando veio o pequeno apocalipse de 4/10 no Face, no Zap e no Insta. Era um evento com produtores de vinho, e mais ou menos 20 pessoas –brasileiros e portugueses em proporções parecidas– se distribuíam em quatro ou cinco mesas.

Todos olhando com raiva para o smartphone até que alguém anuncia:

– Gente, caiu o Whatsapp!

– Não é problema da operadora, não?

– Não: foi no mundo inteiro.

Mal-estar geral.

– Caíram também o Instagram e o Facebook.

Agitação e rebuliço.

– Sem previsão de volta.

Expressões de dor e quase pânico nos rostos.

De que vale comer se não podemos fotografar e postar a comida?

Para que ir a um restaurante se não é possível fazer check-in no Face?

Como tolerar a companhia à mesa sem o dedo nervoso em seis grupos simultâneos no zap?

A comida era peixe, acho. Não foi imortalizado na internet, o pobre. Então talvez não tenha existido.

Como, muito tempo atrás, conseguíamos comer com outras pessoas sem acessar as redes sociais? Descobrimos no improviso, durante o almoço.

Tivemos de conversar entre nós. O assunto, claro, era o apagão das redes. Tecemos hipóteses e cenários, baseados nas coisas que tiramos da cartola sem consulta nem checagem.

Foi bom para entender, no universo analógico, como nascem as teorias conspiratórias que viralizam na internet.

 

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