O bolo de Hitler no aniversário da estudante gaúcha
Uma estudante de história da UFPel (Universidade Federal de Pelotas, RS) comemorou o 24º aniversário com um bolo com a imagem de Adolf Hitler impressa na cobertura. Caroline Gutknecht ainda compartilhou fotos da festinha nazi nas redes sociais, mas depois apagou. O caso, ocorrido em setembro, ganhou destaque nacional ontem, com a nota publicada pela colunista Monica Bergamo.
Um bolo de Hitler tem muita coisa a nos dizer. Aqui vão algumas:
1. Não é piada
Os responsáveis pelo bolo podem, a qualquer momento, vir dizer que era piada. Sátira. Tiração de sarro. Está evidente que não há humor sarcástico ou crítica ao nazismo no bolo. Se fosse sátira, Hitler estaria enforcado, decapitado, no mínimo seria retratado como um filhote de Satanás. É um desenho sério, solene, com o líder nazista em uniforme militar. De qualquer forma, há algo de estranho nessa história, há elementos conflitantes. Caroline tinha balões com mensagens como “o mundo é das mulheres” e “mais amor, menos guerra”. Seu perfil no Twitter tem uma arte típica de estudantes de história –ou seja, jovens de esquerda–, com figuras do naipe de Lênin numa montagem fotográfica. Um grupo de discussão num post do DCE da UFPel no Facebook fala que Caroline é neuroatípica, tem alguma questão relativa à saúde mental. Resta à estudante (ou a alguém que a represente) vir a público para tentar se explicar.
2. A aniversariante não está sozinha
Obviamente, havia mais gente na festa. Alguém assou o bolo e o confeitou sem questionar a imagem. Ninguém se retirou do recinto na hora do parabéns. Um homem mais velho (pai?) posa com Caroline junto ao bolo em uma das fotos na internet. Nenhuma dessas pessoas sabia nada sobre Hitler e nazismo?
3. Os nazistas nunca deixaram de existir
Ninguém se torna fã de Adolf Hitler e uma hora para outra. A farta produção de revista com “reportagens históricas” sobre o nazismo nos últimos 20 anos é uma amostra de que esse pessoal estava quieto. Mas agora decidiu sair da toca.
4. Nazistas saíram do armário e não querem voltar
Bolo de aniversário, fotinho no Instagram, reunião com partido neonazi alemão… isso pode parecer falta de senso de noção, mas é estratégia. Vão, aos poucos, empurrando os limites do normal, do admissível. Cada ousadia aparentemente burra é um passo na direção da normalização do nazismo.
5. Conservador, uma ova
No Brasil, a ultradireita se agarra ao rótulo “conservador”, mas na verdade é reacionária e retrógrada. O emprego de eufemismos, o uso de palavras suaves para designar coisas bárbaras é parte da estratégia de normalização do obscurantismo. E quem é o líder desse movimento, hein?
6. O Sul do Brasil tem um problema
Não é preconceito contra a gente do Sul: são os fatos. Segundo a antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, 301 das 530 células neonazistas brasileiras estão na região. No Sudeste, são 193 grupos. Os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul colecionam episódios de ataques racistas e louvor ao nazismo. A ascendência europeia, o déficit de educação e outras questões 100% brasileiras talvez expliquem o apelo que o discurso da supremacia branca tem entre muitos sulistas –uma minoria que faz barulho.
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