Vendido ao preço de 100 latas de cerveja, copo térmico vira artigo de ostentação

Em meio século de vida, já vi muita modinha ridícula.

Modinha de tênis assim ou assado, de relógio que troca a pulseira, de viseira, de pochete, de bracelete “energético” de cobre, de fone de ouvido grande, de fone de ouvido sem fio.

Modinha de paleta mexicana, de tapioca, de sorvete de iogurte, de meter Nutella até na mãe, de açaí com granola, de taça lambuzada por fora, de barca de tudo quanto é tranqueira, de cerveja amarga, de cerveja azeda.

O que eu ainda não tinha visto era a modinha de levar o próprio copo para beber cerveja no boteco ou na rua. Copo-ostentação, para postar no Instagram, que custa entre R$ 150 e R$ 250, algo como cem latas de cerveja popular.

O tal copo, cuja marca não vou citar, é de marca americana, feito de aço inox e promete deixar a bebida gelada por horas. Virou meme na internet, como item obrigatório da galerinha chamada sardonicamente de heterotop: rapazes metidos a garanhão, que se juntam para jogar beach tennis e fumar “vape”, cigarro eletrônico.

“Se eu deixar a cerveja no copo por 4 horas, podem me levar ao IML”, diz um tuiteiro. Na trincheira oposta, os fãs do tal copo dizem que a maledicência é inveja de quem não possui o equipamento.

A ostentação de copo térmico atinge todo o Brasil, mas há indícios de que a moda tenha surgido no Espírito Santo, mais especificamente nas praias da Aldeia e de Bacutia, em Guarapari, pontos de encontro da elite capixaba.

“O Brasil descobriu o copo agora e é modinha no ES há mais de um ano”, diz um tuíte datado de 5 de novembro.

De fato, vários posts de 2020 citam a marca topzera de copo como algo próprio da cultura do capixaba moderno. Tem até um artigo do jornal A Gazeta, de Vitória, publicado em janeiro do ano passado, com a afirmação de que o tal copo “virou moda entre os mais ligados nas novidades no Espírito Santo”.

Entre o surgimento do fenômeno disruptivo capixaba e sua assimilação pelo resto dos brasileiros, houve uma pandemia. Talvez isso explique a estranha demora, pois é o tipo de fenômeno de manada que se espalha bem rápido neste país.

Agora, atenção: se me virem com um copo desses… foi presente. Mas não vão me ver. Se eu ganhar um, vou beber escondido.

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