10 tradições que correm risco de extinção nos restaurantes de São Paulo
Na gastronomia, como em qualquer setor, tradições chegam e vão embora. Algumas deixam saudade, outras já deveriam tem vazado faz tempo. Confira a seguir coisas que, hoje em dia, você só encontra em lugares muito old school.
1. Garçom empertigado
O sujeito não tem onde cair morto, mas põe um paletó, uma gravata borboleta e se comporta como um criado à moda antiga. Puxa as cadeiras, pendura os casacos e bolsas, trata todo mundo com reverência e é capaz de servir arroz com duas colheres.
Esse tipo garçom de garçom, infelizmente, tende a existir somente nos restaurantes muito, muito caros. Para nós, que não temos acesso aos templos da alta gastronomia, resta o castigo de conviver com o serviço ao estilo hipster.
2. Carrinho de entradas frias
Quando eu era moleque e ia almoçar com meus pais, láááá no século passado, alguns restaurantes tinham um esquema astuto para faturar em cima dos clientes esfomeados.
Assim que as pessoas sentavam à mesa, surgia do nada um carrinho com dezenas de gostosuras. Alcachofra em conserva, cuscuz de camarão, queijos, berinjela à parmegiana. Era difícil resistir.
O carrinho retornava triunfalmente, desta vez com sobremesas, quando todos já haviam terminado o prato principal.
O valor das comidas? Você só descobria quando chegava a conta. O susto era inevitável. Para o bem das carteiras e da transparência, o carrinho de surpresas não circula mais em muitos lugares.
3. Paliteiro
Paliteiro, saleiro, pimenteiro. Todas as mesas costumavam tê-los. Hoje, não mais. Já escrevi sobre o assunto neste post.
4. Azeite em lata
As latas de azeite foram substituídas por embalagens de vidro. A qualidade do líquido, em tese, melhorou. Em tese, pois os vidros são muito mais fáceis de fraudar. O próprio dono do restaurante remove a tampa, coloca outro azeite qualquer lá dentro e fecha com um bico genérico.
É por isso que, no Rio de Janeiro, os portugueses donos de boteco ainda trabalham com azeite em lata.
5. Louça com o nome da casa
Você ia ao Rei do Frango Assado, e comia em pratos com o nome do restaurante impresso na porcelana.
Isso saiu de voga, ficou démodé. Hoje em dia, ter a louça com o nome da casa é vintage, mas pode ser também um sinal de decadência. Principalmente se o nome da louça não é o mesmo do restaurante. Já vi isso acontecer.
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6. Esconderijo da comida
Nos restaurantes à moda antiga, daqueles que trazem a comida em grandes travessas de metal, era comum o garçom levar os pratos sabe-se lá para onde depois de servir todo mundo. Quando alguém07 queria repetir, o cara demorava um século para ressurgir com a baixela, resgatada das profundezas da cozinha.
Isso era particularmente irritante nas pizzarias, em que eu requisitava várias vezes a reposição da comida no prato. “Ei, onde você vai com essa pizza? Parado aí. Pode por mais um pedaço de mussa e outro de calabresa.”
7. Vinho sobre a mesa
Era normal que o dono do restaurante deixasse uma garrafa de vinho fechada sobre a mesa. Aquele Forestier básico, um Baron de Lantier ou mesmo a belíssima garrafa azul do Liebfraumilch. Em pé, no calor, na poeira.
Eu sempre me perguntei: será que alguém chega e pede para o garçom abrir?
Acho que não muita gente, tanto que o hábito só resiste em restaurantes muito antiquados.
8. Quadros com resenhas
Os comerciantes exibiam orgulhosos as notas positivas que saíam na imprensa. Existiam até umas figuras que vendiam essas críticas e resenhas, já devidamente emolduradas, de restaurante e restaurante.
O sumiço desses quadros tem pouco a ver com as mudanças na gastronomia. É o esfarelamento da imprensa, mesmo.
9. Sobremesas industriais
Sabe-se por que cargas d’águas, antigamente tinha muito dono de restaurante que achava desnecessário fazer sobremesas. Eles vendiam doces congelados, feitos em alguma fábrica que fornecia para metade do setor.
Os restaurantes punham um prisma de papelão sobre a mesa, com as opções: torta holandesa, cassata napolitana, tartufo de sorvete, musse de chocolate e de maracujá.
Essa já foi tarde.
10. O homem do balão
Na saída, sempre tinha um sujeito que vendia balões de gás. Os pais ralhavam, mas quase sempre cediam e compravam. Desse cara eu sinto falta.