Um jantar no restaurante Família Bolsonaro

No restaurante Família Bolsonaro, o cliente da mesa 45 faz sinal para o garçom.

– O que você quer?

– Garçom, minha sopa está fria.

– Não, não está.

– Como assim? Olha aqui: congelada.

O cliente bate com a colher na sopa sólida.

– Vai precisar de um martelo para quebrar.

– Essa é a sua opinião. A minha é diferente, e você precisa respeitá-la. Vou chamar o chef Jair.

O chef chega com marreta e cinzel em mãos. Racha um pedaço da sopa e chupa a lasca de gelo.

­– Quentinha e deliciosa, talkey?

­– Não é possível que você não perceba que a sopa está congelada!

– É o que você diz. Eu e o garçom achamos que está quente. Você é um perdedor cheio de mimimi, não sabe viver numa democracia. Fora do meu restaurante!

O ocupante da mesa 25 também tem problemas com o pedido.

– Garçom, eu pedi o prato vegetariano. Você me trouxe um bife.

– Saiba que a sua ilação é muito grave. Esteja preparado para provar o que diz ou enfrentar as consequências!

– Como? Tem uma picanha sangrando no meu prato!

– Vocês, da esquerda, não têm mesmo escrúpulos. Isso é um atentado à honra do cozinheiro. Chef Jair, venha cá!

– Qual é a cuestão?

– Isto é carne. Carne não é comida vegetariana.

– Você está errado no tocante a isso aí, talkey? A comida é boi, o boi é vegetariano, então logicamente a comida é vegetariana. Para de inventar narrativas e some do meu restaurante!

Um pouco mais tarde, o freguês da mesa 30 tenta pagar a conta.

­– Não aceitamos cartões, talkey?

– Aceita pix, chef?

– Não. Nenhum pagamento eletrônico. Só papel. Impresso. Dinheiro vivo e auditável.

– Por quê?

– No meu entendimento, pagamento eletrônico não é confiável.

– Mas até feirante aceita…

– Você pode depositar o valor na conta de outro restaurante.

– Que loucura é essa?

– Posso provar isso aí.

– Então prove!

– Eu não sou obrigado a provar nada. Você é quem precisa provar que não vai depositar nosso dinheiro em outra conta.

– Quer saber? Estou cansado dessa conversa maluca. Toma o dinheiro!

– Valeu. Até 2022.

– Espera aí, cara: eu dei R$ 200, falta o troco.

– Estamos sem notas miúdas. Mas posso resolver a cuestão. Queiroz, dá um jeito no cidadão aqui!

No restaurante Família Bolsonaro, o cliente insatisfeito sempre leva o troco em balas.

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